5.22.2012

Para ti...

Não posso considerar que a dor tenha abrandado, afinal ela grita bem alto dentro de mim, revolta-se, estica-se, bate-se. Por vezes acalma como se estivesse a ganhar forças, digo isto porque quando a calmaria termina ela volta a gritar com os pulmões ainda mais abertos. Dizem-me que ela vai acalmar, mas sinceramente, os meus ouvidos já estão cheios de tanta mentira. Sim é uma mentira, porque o máximo que vai acontecer a esta dor é controlar-se por se ter tornado tão familiar. As memórias, que revejo a cada momento de cada dia, parecem de há imenso tempo, quase como de outra vida e na verdade são apenas de há uns meses. E esse tempo em que éramos felizes, fazem-nos falta. Entregue aos meus pensamentos, percebi como tenho saudades da simplicidade em que vivíamos, onde éramos genuinamente felizes. Sinto como se tivesse parado, a minha mente parece que se tornou mais lenta, não sou eu. Afinal como posso ser? O eu que conheci, não o vejo, sinceramente, acho que foi contigo. Sei perfeitamente que conseguia viver feliz comigo própria, sem grandes preocupações com um sorriso na cara, com umas piadas sempre à mão e uma mente que conseguia fazer as piores associações, e tu, incrivelmente também o eras, mais aliás. Mas a verdade é que quando nos juntamos, unimos tudo o que éramos, entregamo-nos e sorriamos felizes e apaixonados, então tudo muda, passamos a ser um e já não há como voltar atrás. Sem dúvida que foram os melhores tempos das nossas vidas. Agora, tu partiste, sim eu sei, não querias, ninguém queria. Também me levaste, já não vivo, apenas existo entre uma respiração e outra. Estou só à espera que o meu corpo se canse. Já o sinto desgastado. Sempre gostei de me ver como uma guerreira forte que aguenta qualquer peso, mas somos todos heróis e conseguimos pegar o mundo nas mãos até que sentimos na pele as dificuldades. Não sei até que ponto sou resistente, mas as minhas pernas já se sentem cansadas. Neste momento, vejo-me como um corpo não morto que apenas está. É esta a melhor expressão que encontro. Desconheço o teu paradeiro exacto, mas já percebi que por mais sedenta que esteja para explicações e exactidões não as vou ter, pelo menos a grande parte das minhas perguntas. Gosto apenas de pensar que estás bem, a olhar por todos nós e quem sabe, talvez com um pouco de sorte, a meu lado. E se aqui estás deves estar a ler isto.... gostava de ponderar o que estás a dizer ou a pensar, mas não consigo. Sei que me queres ver sorrir mas sabes que é impossível. Tu compreendes. Sempre gostei disso em ti, compreenderes tudo e todos. Já há poucos assim, e agora ainda menos. O cansaço está a tornar-se grande, como se me estivesses a chamar. Sim amor, já vou ter contigo aos sonhos. Entretanto, deita-te aqui a meu lado, abraça-me, beija-me ou adormece-me como eu gosto, se quiseres podes fazer tudo isso, mas faz-me adormecer bem para que te possa encontrar mais rápido. Tenho saudades.

11.29.2011

Estado zero


Um dia vou simplesmente sair. 
Sem motivo, sem lugar para estar ou meta a alcançar. 
Vou andar, um pé a seguir ao outro, calmamente, sem pressas. Olhar em redor, observar o que mais ninguém vê, os pormenores. Vou sentir a essência do momento, do lugar. Respirar fundo e deixar-me levar. Deixar de pensar. Vou simplesmente regressar ao estado zero, à natureza, ao quando ainda não era nada e tinha tudo. 
Há quem chame a tudo isto vaguear e sim, vou vaguear sem eira nem beira e quando conseguir fazer isso, sei que a noite vai aparecer e aí vou ver a lua e as estrelas, vou deitar-me e simplesmente olhar, sentir a simples perfeição. Também sei que vai ser aí, nesse preciso momento em que atinjo a perfeição, tenho o caminho para casa, não posso lutar contra ele, nem tenho como, assim, vou-me levantar e mais uma vez caminhar, não vou estar triste, vou sorrir docilmente porque sei que não vai ser a última caminhada.