O Vulto

(continuação do post "Apenas um mero sonho")

Ela olhava fixamente para aquele vulto que se dirigia na sua direcção. A chuva era tanta que ela não conseguia perceber de quem se tratava. Ele aproximava-se cada vez mais dela, mas ela continuava sem ver quem ele era. Finalmente, ele chega perto dela e cobre-a com o seu chapéu. Ficaram os dois um a olhar para o outro em silêncio. Ela tentava desvendar quem era aquele rapaz, ele tentava encontrar algo para a fazer falar. "Está bem?", acabou ele por perguntar, ela afirmou.
O tempo parou, "ACORDA!!", dizia-lhe uma voz dentro da sua cabeça, "Há bem mais do que isso", continuava ela. Aquelas palavras ecoaram dentro da sua cabeça e ela começou a analisa-las.
Há cerca de um ano atrás, ela vivia a sua vida feliz, sem tristezas ou mágoas, passava na rua com um sorriso que iluminava o dia de qualquer um, porém aquele ser manipulador aparecera na sua vida e mudou-a completamente. Provavelmente ele nunca sentiu que tivera um impacto tão grande na vida dela, que a tinha mudado tanto. Desde o seu aparecimento, ela perdeu o sorriso e para não viver tão mal com o mundo ela teve que inventar um. Sem brilho e sem graça, um sorriso falso. Desde o seu aparecimento que ela não sabia viver, apenas sobrevivia como uma débil doente desastrada. Sonhou, chorou, pensou, perdeu mais do que ganhou, nesse ano ela nunca sorrira. Mas agora, ali, naquele momento, aquele vulto que se tinha transformado num belo ser fê-la pensar, fê-la ouvir aquelas vozes dentro da sua cabeça que há tanto tempo lhe diziam o mais correcto.
Tomou uma decisão, quebrou aquele feitiço que lhe tinham lançado, ergueu a cabeça e olhou o rapaz diante dela, olhou-o nos olhos e viu aquele azul profundo e sorriu. "Obrigada", susurrou ela. Ele olho-a e sorriu também. Ainda debaixo daquela chuva que agora acalmara, seguiram juntos por aquele caminho incerto.