6.04.2011

Espera...


Caminho lentamente pela rua, sei que estou atrasada mas de todas as vezes que me atrasei tive que esperar, então para quê correr quando sei que inevitavelmente vou ter que esperar? Chego ao hall e espero pelo elevador, as portas abrem lentamente e entro na pequena caixa mal iluminada. Clico no botão e o ascensor começa a fazer o seu trabalho, range devido à idade, por momentos penso “e se acontecesse alguma coisa? Se ficasse presa?”, não consigo evitar, e é uma boa forma de me manter ocupada enquanto os andares passam lentamente. Finalmente chego, olho-me ao espelho e fico a pensar o que vejo ali. Faço força para acreditar que estou bem e saio. Este prédio é arrepiante, mas ao mesmo tempo tem o seu fascínio que acho mórbido. É escuro, tem cheiros estranhos, como se estivesse vazio, no entanto é um dos lugares da cidade com mais actividade. E talvez aqui esteja o fascínio, pessoas cheias de luz e simpatia trabalham aqui no entanto é lugar sombrio e vazio, como é possível? Talvez seja uma mensagem, “encontramos as melhores pessoas nos locais mais inimagináveis”. Também acho incrível esta minha necessidade de manter a minha mente ocupada, não consigo dar dois passos sem imaginar ou pensar em algo. Normalmente crio situações que nunca vão acontecer, outras vezes passo na minha cabeça cenas vezes e vezes sem conta, e em algumas ocasiões ainda tento descobrir “mistérios”, uma Sherlock Holmes falhada talvez, mas renova-me a alma e não enlouqueço com a lentidão. Com isto chego ao destino, entro no gabinete e uma senhora, com um sorriso acolhedor dirige-se a mim, “Boa tarde, veio para a consulta? O doutor já a atende, pode esperar na sala de espera por favor.” Assenti e devolvi o sorriso à senhora, é um hábito que tenho, devolver e dar sorrisos. Sempre me disseram que é mais fácil alcançar alguém através de um belo sorriso. Não pretendo apanhar ninguém, parte de mim acredita que é porque sou simpática e quero mostrar isso ao mundo, mas há dias em que fica mais fácil acreditar que é para testar as minhas capacidades. Será que consigo enganar alguém se disser que estou bem quando estou a morrer por dentro?

A conversa da secretária já a sei de cor e salteado, não por ser dela mas por ser universal. Uma conversa meiga para tentar esconder o atraso, uma mentira bem sucedida para acalmar as pessoas de uma espera interminável. Afinal, quem é capaz de gritar a um sorriso? Ninguém diz para deixarmos de ser felizes, todos lutam por isso.

Chego à sala doentia e vazia, o quadro geral de qualquer sala de espera. Sento-me e na velha televisão passa uma novela de baixa qualidade. As revistas são atrasadas e trazem mexericos pelos quais não me interesso. O telemóvel ainda não tocou, espero pela resposta que talvez nunca venha, mas mesmo assim continuo à espera. Olho para a janela, não se vê nada, o vidro está embaciado pela sujidade. “Devia ter trazido um livro”, penso. Outra forma de entretimento, esquecer o mundo e mergulhar em outra história. Não há livro, não há música, não há conversa. Remeto-me à espera impaciente e ouço um tique taque de um relógio antigo à distância. Olho para o relógio impaciente, ainda não passaram cinco minutos. Odeio esperas, odeio! Tento encontrar alguma forma de cortar essa espera, de fazer o meu objectivo mas isso não está nas minhas mãos. O telemóvel está vazio e penso “PORRA! O que se passa?!” e ai começam os filmes, os dramas, os enredos loucos. Eu sou a vítima que se vai transformar em heroína no final da história pela força própria pela vontade. É essa a receita.

Finalmente chamam-me, e agora reparo, não sei do que estou à espera. É esta a minha vida, esperar por algo que não sei se vale a pena. Será este o meu destino? Lutar e esperar sem saber o que me vai calhar?

3 comentários:

Anna disse...

Ainda tem aquelas vezes (muitas) que é melhor agir do que ficar apenas esperando D:
mas eu gostei do texto :]

Sarah disse...

"Será que consigo enganar alguém se disser que estou bem quando estou a morrer por dentro?", tenho a resposta a esta pergunta. É claro que mentes quando estás mal, és forçada a dizer que está tudo bem, mesmo que saibas que não está. Sabe porque? Porque pensas que ninguém vai entender ou perceber pelo que estás a passar. E é aí que entram as pessoas que tu mais valorizas na tua vida e que te conhecem melhor que ninguém, com o dom de saber quando estás a mentir, sem precisar de ouvir qualquer palavra tua.
PS: Continua a escrever (:
Beijinho. Sarah

jorge alte disse...

Eu acho que esse é o destino da humanidade.Neste jogo como jokers temos a fè e a Esperança. eles são os motores para nos tranquilizar, pois tudo acontecerá um dia. Até lá resta-nos sorrir e viver.

bjs