Tempo

O tempo passa demasiado depressa, acho que todos sabemos disso.

Sinceramente, acho interessante como algo tão abstracto controla e molda a nossa vida.

É uma criação do homem, mas esta criação sempre existiu, muito antes dele. Intrigante não acham? A necessidade de medir o tempo, de o contar, de o gerir, surgiu com o Homem e para quê afinal? Será que não conseguimos viver sem um relógio no pulso?

O tempo agonia, a passagem do tempo mata. Será então o tempo a primeira criação maléfica do Homem? Criamos aquilo que nos magoa e acho que temos que admitir, nós, seres humanos, dotados de razão e inteligência, atiramo-nos de cabeça para o sofrimento, plantamos e colhemos, saltados do precipício e ainda atribuímos culpas às nossas criações que à vista dos restantes, não nos pertencem.

Vemos os dias passar e quanto mais queremos ir devagar, maiores são os nossos passos. É o mundo dos opostos meus amigos. Um dia parece que não tem horas suficientes, uma semana passa a correr, em meros segundos estamos no mês a seguir e quando damos por nós estamos no fim-de-ano com um copo de champanhe nas mãos, em cima de uma cadeira a comer passas e a pedir desejos. Não damos muito valor a estas fatalidades naturais e habituais, excepto quando estamos a ficar sem tempo. Quando faltam cinco minutos para acabar o exame, quando temos que deixar a cara-metade e em último caso, quando vemos o tempo da nossa vida a esgotar-se. Nesses momentos apressamos tudo, a escrita, o passo, puxámos para nós aquilo que não queremos largar, há sempre tempo para um último beijo, um último abraço. Tentamos deixar a nossa marca, uma boa marca, no tempo final somos simpáticos, tentamos dizer o que nunca dissemos porque pensamos “o que tenho a perder?” e o que tinham a perder antes? A vida? Amor? Dinheiro? Tempo? Isso, meus caros, perdemos sempre mas também ganhamos. E no leito de morte do que vale a melhor acção, as melhores palavras? Não vamos usufruir delas, perdemos tempo com os nossos medos e faltas de coragem. Para quê?

O mais irónico de tudo é que estou a escrever este texto a olhar para as horas e pensar que tenho que apanhar o autocarro e ainda tenho muito que fazer. Encurto o texto e penso “escrevo sobre isto mais tarde”, adiamos sempre não é? E quantas vezes é que realmente chegamos a fazer tudo o que prometemos?

O tempo passa, não pára, não se importa com quem deixamos para trás, se nos atrasámos. Ele vai-nos deixar a pensar que a culpa foi nossa, que fomos nós os culpados de termos chegado atrasados porque não corremos o suficiente, vamos ser nós os culpados por não dizermos as palavras na hora certa porque não as deixámos ouvirem-se. Engraçado como temos sempre que atribuir culpas, alguém tem que ser o culpado de alguma coisa porque nada acontece por acaso ou por vontade própria. Mas o tempo também trás coisas boas consigo, adormece os demónios que nos fizeram chorar, ajuda a esquecer, ajuda a superar. Com o tempo aprendemos a esperar, crescemos, envelhecemos, recordamos e desejamos voltar de onde quisemos sair, passamos a querer ter os melhores dias na nossa vida, poder visitá-los a qualquer momento, voltar a sentir o que sentimos antes.

O tempo, não sabe o que faz nem o que provoca, passa sempre ao mesmo ritmo ignorante às velocidades que lhe dão. Existe desde sempre e para sempre vai continuar a existir mas será que vamos cá estar para ver isso? Provavelmente não, por isso aconselho que aproveitem estes dias da vossa vida, que são os melhores, aproveitem-nos, vivam-nos para que quando olharmos para eles a vontade de voltar seja enorme. Acreditem isso é uma coisa boa, porque foram bem vividos, sem arrependimentos e quantos de nós não davam para ter uma vida sem eles?