Saudades de mim

Admito que sinto saudades, mas não dele, dela, do passado ou de não ter aquilo que não tenho. Tenho saudades da simplicidade. De quando podia sentar-me e ver os dias passar, de correr e ver o sol brilhar enquanto se põe por entre os ramos das árvores, de esticar as mãos bem alto para tentar apanhar algo impossível de alcançar. Saudades de sentir o sol a bater no meu corpo enquanto corre uma leve brisa que revolta suavemente os meus cabelos. Saudades de cada milímetro do meu corpo estar alerta a qualquer desses momentos. Saudades de poder fazer aquilo que sei melhor, ir para algum lugar longe e desconhecido sem sequer sair do meu quarto, de pôr a música bem alto e só eu a poder ouvir enquanto deixo as palavras fluírem e escreverem textos que só eu percebo na totalidade. Saudades de rebolar na relva, de não ter medo de me sujar com terra, de cair e levantar-me e ainda dar uma gargalhada, de sentir o mundo no seu estado mais simples, de pegar nas minhas tintas e pincéis e deixar-me guiar por eles e de perceber que toda a minha pele acabou pintada.
No fim de contas percebo que tenho saudades de respirar bem fundo e saber quem sou eu, de saber que sou simplesmente eu.

Talvez esteja na hora de matar saudades (;