11.18.2011

Cartas para o mundo - parte 1


Um envelope chegou endereçado a mim. Já não sabia o que era ler cartas. Nas minhas mãos senti a velha textura do papel e o cheiro da tinta espalhou-se no ar, abri com cuidado e comecei a ler. 

"Deixa-me sonhar, pára de me arrastar para a realidade, esse mundo sujo onde não suporto viver. Não me critiques nem digas o quanto criança irresponsável posso ser por decidir criar um mundo meu onde finalmente posso viver. Não, não estou a fugir de nada estou só farta de viver num sítio onde não posso sair à rua sem ser julgada por pessoas que nunca vi, como se soubessem o que é estar na minha pele, como se tivessem moral para julgar. É bom criticar os outros, o erro é deles e isso faz os nossos erros parecerem menores. De facto, à luz do mal dos outros, nós somos grandes, os nossos erros parecem tornar-se irrelevantes e isso é o que todos querem. Esquecer o que fizemos, a miséria que a nossa vida pode ser, e esta é a razão pela qual a vida alheia é tão falada. Mas isso nem é todo o mal desse antro e tu sabes, qualquer um sabe. Na verdade isso nunca me incomodou verdadeiramente, existem coisas piores, que magoam e fazem-te desejar desaparecer, perguntar o que estás ali a fazer, qual é o motivo para ali continuares. Essas sim, são as piores coisas, aquelas que te fazem desistir. 
Mas deixa-me perguntar-te, como te podes vender desta maneira, deitares fora o que te torna único? 
Agora renegas-me, chamas-me de estranha só por não me vender ao desbarato como tu e o resto do mundo fizeram. Ris-te com os teus iguais por ser diferente, por me manter original, por me agarrar a mim e não me deixar ir numa corrente onde se vende uma perfeição falsa. 
Disseste que nunca te ias tornar assim... Mas esquece, deixo à tua vontade oh ser superior, decide o que é melhor, critica-me, julga-me, fala, de pouco me interessa faz muito tempo que sai desse mundo. Quando o fiz, fechei os olhos e deles caiu uma lágrima. Não foi de pena, foi de dor porque é tudo isso que existe nessa perfeição. Quando abri os olhos, percebi que não podia lutar contra vocês, tinha apenas que seguir o meu caminho. Gostaria apenas que me dissesses, com sinceridade e sem as respostas que dizes todos os dias tão automaticamente que quase acreditas que é verdade, como te sentes? Isto claro, se ainda fores capaz de pensar ou sentir." 

Por esta altura já estava sentado no chão, mesmo sem nome sabia de quem era aquela carta, com os braços a segurar as pernas tudo o que conseguia pensar era, "ela tem razão".

2 comentários:

Flooor * disse...

bem, adorei imenso! realmente não consigo achar uma palavra concreta pra definir o quão bem tu escreves :D
espero retomar os meus textos dentro de pouco tempo, porque sinceramente já sinto mesmo falta. é uma maneira tão boa de transmitir e poder passar cá para fora o que sinto, e ultimamente não tenho conseguido expressar isso.
vou ficar muito mais atenta agora que começas-te esta nova fase no teu blog, visto que adoro imenso todos os teus textos e aquilo que eles trabsmitem (:
um grande beijinho (; *

jorge alte disse...

Como sempre gostei do teu modo de escrever e do tema.
Agora que penso que voltaste para nós que aqui partilhamos esta amizade muitas vezes sincera, quero-te agradecer tudo o que postaste, pois muitas vezes me levou a novas visões de problemas e realidades tornando-me mais sábio embora te pareça irreal.
espero que não voltes a abandonar a tua escrita e que continues esta nova fase com a mesma coragem. inteligencia e sentido de vida.

bjs